Gathas

Gathas (do sânscrito “sons” ou “versos”) são curtos poemas que nos auxiliam na prática da atenção plena, nos conectando às nossas ações e ao momento presente.
Thich Nhat Hanh escreveu inúmeros gathas, disponíveis em seus livros, que tratam de diferentes momentos do dia, como a hora de acordar, de meditar e de comer.
Você pode repetir os poemas diversas vezes, mentalmente ou em voz baixa, enquanto expira e inspira conscientemente. Absorva cada uma das suas palavras, deixando que sua mente habite o agora.
Abaixo, listamos alguns dos mais conhecidos gathas de Thay, agrupados por seus temas:
Ao acordar
- Acordando: Acordando nesta manhã, eu sorrio. Vinte e quatro novas horas estão diante de mim. Eu me comprometo a viver plenamente cada momento e a olhar para todos os seres com olhos de compaixão.
- Dando os primeiros passos do dia: Andar na Terra é um milagre! Cada passo atento revela o maravilhoso Dharmakaya.
- Levantando-se da cama: Se hoje eu inadvertidamente pisar em um pequeno inseto, que ele não sofra muito. Que seja liberto. Homenagem ao Bodhisattva da Terra da Grande Felicidade.
- Abrindo a janela: Abrindo a janela, eu olho para o Dharmakaya. Quão maravilhosa é a vida! Atenta a cada momento, minha mente está clara como um rio tranquilo.
- Acendendo a luz: O esquecimento é a escuridão, a atenção plena é a luz. Trago a consciência para brilhar sobre toda a vida.
Ao usar o banheiro
- Ligando a água: A água vem de fontes nas altas montanhas. A água corre nas profundezas da Terra. Milagrosamente, a água chega até nós e sustenta toda a vida. Minha gratidão está preenchida até a borda.
- Lavando as mãos: A água flui sobre essas mãos. Que eu possa usá-las habilmente para preservar nosso precioso planeta.
- Escovando os dentes: Escovando os dentes e enxaguando a boca, me comprometo a falar com pureza e amor. Quando minha boca está perfumada com a palavra correta, uma flor desabrocha no jardim do meu coração.
- Enxaguando a boca: Enxaguando a boca, meu coração está limpo. O universo está perfumado por flores. As ações do corpo, da fala e da mente são acalmadas. De mãos dadas com o Buddha, eu caminho na Terra Pura.
- Usando o banheiro: Impuro ou imaculado, acréscimo ou decréscimo — esses conceitos existem apenas na nossa mente. A realidade do interser é insuperável.
- Banho: Não nascido e indestrutível, além do tempo e do espaço, tanto o que é transmitido quanto o que é herdado repousam na natureza maravilhosa do Dharmadhatu.
- Olhando no espelho: A consciência é um espelho que reflete os quatro elementos. A beleza é um coração que gera amor e uma mente que se encontra aberta.
- Lavando os pés: A paz e a alegria de um dedo do pé é a paz e a alegria de todo o meu corpo.

Ao meditar
Preparando-se para a meditação
- Entrando no local de meditação: Entrando onde meditarei, eu vejo meu verdadeiro eu. Ao me sentar, me comprometo a interromper todos os distúrbios.
- Ao sentar-se: Sentar-se neste lugar é como sentar-se sob uma árvore Bodhi. Meu corpo é a própria atenção plena, livre de qualquer distração.
- Encontrando uma postura estável: Na postura de lótus, a flor humana desabrocha. A flor da natureza está aqui, oferecendo sua verdadeira fragrância.
- Acalmando a respiração: Inspirando, eu acalmo meu corpo. Expirando, eu sorrio. Habitando o momento presente, eu sei que este é um momento maravilhoso!
- Ajustando a postura: Os sentimentos vêm e vão, como nuvens em um céu com muito vento. A respiração consciente é minha âncora.
Antes de começar a meditar
- Meditação matinal: O Dharmakaya está trazendo a luz da manhã. Sentado(a) quieto(a), com meu coração em paz, eu sorrio. Este é um novo dia. Eu me comprometo a vivê-lo com consciência. O sol da sabedoria logo estará brilhando em todos os lugares. Irmãos e irmãs, coloquem diligentemente sua mente em meditação. Namo Shakyamunaye Buddhaya (três vezes).
- Meditação noturna: Ao pé da árvore Bodhi, mantenho minhas costas retas e minha postura estável. Corpo, fala e mente são acalmados. Não existem mais pensamentos sobre certo e errado. A atenção plena reluz nos cinco skandhas. A face original será encontrada e a margem da ilusão será deixada para trás. Irmãos e irmãs, coloquem diligentemente sua mente em meditação. Namo Shakyamunaye Buddhaya (três vezes).
Ao caminhar
- Meditação caminhando: A mente pode seguir em mil direções, mas, neste belo caminho, eu ando em paz. A cada passo, sopra um vento frio. A cada passo, uma flor desabrocha.
Ao respirar conscientemente
- 1.ª versão Voltando para a ilha do eu, vejo que Buddha é a minha atenção plena brilhando bem perto, brilhando bem longe. O Dharma é a minha respiração protegendo o corpo e a mente. A Sangha são os meus cinco skandhas trabalhando em harmonia. Inspirando, expirando. Flor… fresca. Montanha… sólida. Água… refletindo. Espaço… livre.
- 2.ª versão Inspirando, eu sei que estou inspirando. Expirando, eu sei que estou expirando. À medida que minha inspiração fica mais profunda, minha expiração fica mais lenta. Inspirando, eu acalmo meu corpo. Expirando, eu me sinto bem. Inspirando, eu sorrio. Expirando, eu relaxo. Habitando o momento presente, eu sei que este é um momento maravilhoso.
- 3.ª versão Eu cheguei, estou em casa. No aqui, no agora. Eu sou sólido, sou livre. No absoluto eu resido. Cheguei, cheguei. Em casa, em casa. Habitando o aqui. Habitando o agora. Sólido(a) como uma montanha. Livre como as nuvens brancas. A porta para o não-nascimento e a não-morte se abriu. Aqui resido, livre e inabalável.

Ao realizar pequenos rituais e práticas
Ao louvar-se as Três Joias
- Louvando o Buddha: A joia do Buddha brilha infinitamente. Ele alcançou a iluminação perfeita por incontáveis existências. A beleza e a estabilidade de um Buddha sentado podem ser vistas nas montanhas e nos rios. Quão esplêndido é o Pico do Abutre! Quão bela é a luz que brilha do terceiro olho de Buddha, iluminando os seis caminhos escuros. A assembleia de Nagapuspa será nosso próximo compromisso para a continuação dos verdadeiros ensinamentos e práticas. Nós nos refugiamos no Buddha sempre presente.
- Louvando o Dharma: A joia do Dharma é infinitamente adorável. São as preciosas palavras faladas pelo próprio Buddha, como flores perfumadas flutuando do céu. O maravilhoso Dharma é fácil de enxergar. Está gravado luminosamente em três cestos transparentes, transmitidos de geração em geração nas dez direções, para que hoje possamos ver nosso caminho. Nós nos comprometemos a estudá-lo de todo o coração e nos refugiar no Dharma sempre presente.
- Louvando a Sangha: A joia da Sangha é infinitamente preciosa, um campo de mérito onde boas sementes podem ser plantadas. As três vestes e a tigela são símbolos de liberdade. Preceitos, concentração e percepção auxiliam uns aos outros. A Sangha permanece em plena consciência, dia e noite, fornecendo a base para percebermos o fruto da meditação. Com um só coração, voltamos para casa na Sangha e nos refugiamos na Sangha sempre presente.
Cuidando do altar
- Arranjando as flores: Arranjando essas flores no mundo Saha, o solo da minha mente é calmo e puro.
- Trocando a água de um vaso: A água mantém a flor fresca. A flor e eu somos um(a). Quando a flor respira, eu respiro. Quando a flor sorri, eu sorrio.
- Acendendo uma vela: Ao acender esta vela, oferecendo a luz a incontáveis Buddhas. A paz e a alegria que sinto iluminam a face da Terra.
Tocando a Terra
- Olhando para a imagem do Buddha antes de tocar a Terra: No reino da talidade, aquele que se curva e aquele que é curvado estão igualmente vazios de um eu individual. Com profundo respeito, curvo-me a Buddha dessa maneira, e a comunicação é perfeita. Buddhas se manifestam em todas as direções. No Cosmos do Interser, como em todas as joias da rede de Indra, há incontáveis eus me curvando a incontáveis Buddhas.

Ao se alimentar
O Buddha nos aconselha a estar atentos enquanto comemos, para estarmos em contato com a Sangha e o alimento. Irmãos e irmãs, quando ouvirem o sino, meditem as Cinco Contemplações: este alimento é uma dádiva de todo o universo, da terra, do céu e de muito trabalho árduo. Que possamos ser dignos(as) de recebê-lo. Que possamos transformar estados mentais improficientes, especialmente o hábito de comer sem moderação. Que possamos comer apenas alimentos que nos nutram e previnam doenças. Aceitamos este alimento para podermos perfazer o caminho da compreensão e do amor. — Thich Nhat Hanh
Demonstrando compaixão para com os que passam fome
- Antes de fazer uma oferta de alimentos aos famintos: Os caminhos do Desperto são maravilhosos. Sua compaixão ilimitada transforma sete grãos de arroz em alimento suficiente para todos.
- Fazendo uma oferta de alimentos aos famintos: Grande pássaro garuda, espíritos famintos em imensas terras áridas, mãe e filho morrendo de fome no deserto, o bálsamo da compaixão satisfaz toda a sua fome.
Preparando os alimentos
- Lavando vegetais: Nestes vegetais, enxergo um sol verde. Todos os dharmas se unem para tornar a vida possível.
Alimentando-se
- Segurando o prato (tigela) vazio: Olhando para este prato (tigela), vejo como sou afortunado(a) por ter o suficiente para comer de modo a prosseguir com a prática.
- Servindo a comida: Neste alimento, vejo claramente que todo o universo apoia minha existência.
- Antes de comer: Os seres de toda a Terra lutam para viver. Aspiro praticar profundamente, para que todos tenham o suficiente para comer.
- Começando a comer: Com a primeira degustação, ofereço alegria. Com a segunda, ajudo a aliviar o sofrimento dos outros. Com a terceira, vejo a alegria dos outros como a minha. Com a quarta, aprendo o modo de desapegar.
- Olhando para seu prato (tigela) após comer: A refeição acabou e estou satisfeito(a). As quatro gratidões se aprofundam em minha mente.
- Bebendo chá: Esta xícara de chá em minhas duas mãos, a plena consciência sustentada perfeitamente. Minha mente e meu corpo habitam o aqui e agora.
Ao utilizar o sino da atenção plena
Convidando o sino a soar
- 1.ª versão: Com o corpo, a fala e a mente mantidos em perfeita unidade, envio meu coração junto ao som do sino. Que os ouvintes despertem do esquecimento e transcendam toda ansiedade e tristeza.
- 2.ª versão: Que o som deste sino penetre profundamente no cosmos. Mesmo nos lugares mais escuros, que os seres vivos possam ouvi-lo com clareza, para que seu sofrimento cesse, a compreensão surja em seus corações e eles possam transcender o caminho da ansiedade e da tristeza. Namo Shakyamunaye Buddhaya.
- 3.ª versão: Que o som deste sino penetre profundamente no cosmos para que os seres, mesmo aqueles que estão em lugares sombrios, possam ouvi-lo e se tornar livres do nascimento e da morte. Que todos os seres alcancem o despertar e encontrem o caminho de casa. Namo Shakyamunaye Buddhaya.
Escutando o sino
- 1.ª versão: Ouça, ouça, este som maravilhoso me traz de volta ao meu verdadeiro lar.
- 2.ª versão: Ouvindo o sino, sinto que minhas aflições começam a se dissolver. Minha mente está calma, meu corpo relaxado, e um sorriso nasce em meus lábios. Seguindo o som do sino, minha respiração me guia de volta à ilha segura da plena consciência. No jardim do meu coração, a flor da paz floresce lindamente. Namo Shakyamunaye Buddhaya.
- 3.ª versão: Ao ouvir o sino, consigo abandonar todas as minhas aflições. Meu coração está calmo, minhas tristezas findaram. Não estou mais preso(a) a nada. Aprendo a ouvir meu sofrimento e o sofrimento das outras pessoas. Quando a compreensão nasce em mim, também nasce a compaixão.

Ao cuidar da casa
- Limpando o banheiro: Como é maravilhoso esfregar e limpar. Dia após dia, meu coração e minha mente ficam mais claros.
- Varrendo: Conforme varro cuidadosamente o terreno da iluminação, uma árvore de compreensão surge da Terra.
- Limpando a sala de meditação: Conforme limpo esta sala fresca e calma, alegria e energia ilimitadas surgem!
- Jogando o lixo fora: No lixo, vejo uma rosa. Na rosa, vejo adubo. Tudo está em transformação. Impermanência é vida.
- Regando as plantas: Não pense que você está cortada dos demais, querida planta. Esta água chega até você da Terra e do céu. Você e eu estamos juntos desde o tempo sem início.
- Regando o jardim: O sol e a água deram origem a esta luxuriante vegetação. A chuva da compaixão e da compreensão pode transformar o deserto seco em uma vasta planície fértil.
- Cuidando do jardim: A Terra nos traz à vida e nos nutre. A Terra nos recebe de volta. Nascemos e morremos a cada respiração.
- Cortando uma flor: Posso cortar você, pequena flor, presente da Terra e do céu? Obrigado, querida bodhisattva, por tornar a vida tão bela.
- Plantando uma árvore: Eu me entrego à Terra; a Terra se entrega a mim. Eu me entrego a Buddha; Buddha se entrega a mim.
Ao refletir
- Impermanência: O dia está acabando e nossa vida está um dia mais curta. Examinemos cuidadosamente aquilo que fizemos. Pratiquemos diligentemente, colocando todo o nosso coração no caminho da meditação. Vivamos cada momento profundamente e em liberdade, para que o tempo não se passe sem significado.
- Olhando para minha mão: De quem é essa mão que nunca morreu? Alguém nasceu? Alguém irá morrer?
- Sorrindo para a sua raiva: Inspirando, eu sei que a raiva não me torna belo(a). Expirando, eu sorrio. Permaneço com a minha respiração, para que eu não me perca.
Ao lidar com a tecnologia
- Ligando o computador: Ao ligar o computador, minha mente entra em contato com a reserva. Eu me comprometo a transformar as energias do hábito para ajudar o amor e a compreensão a crescer.
- Usando o telefone: As palavras podem viajar milhares de quilômetros. Que minhas palavras criem compreensão e amor mútuos. Que elas sejam tão belas como pedras preciosas, tão lindas como flores.
Ao se locomover
- Dirigindo o carro: Antes de dar partida no carro, sei para onde estou indo. O carro e eu somos um. Se o carro se move rapidamente, eu me movo rapidamente.
- Fazendo uma curta viagem com segurança: Dois terços dos acidentes ocorrem perto de casa. Sabendo disso, sou muito cuidadoso(a), mesmo em uma viagem curta.
Ao interagir com os outros
- Cumprimentando alguém: Um lótus para você, Buddha que irá ser!
Texto traduzido do inglês para o português do Brasil por Eduardo Furbino para A Outra Margem. Traduzido a partir de gathas diversos compostos por Thich Nhat Hanh. Leia nossas notas de tradução.
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